Sonoridades vocais no cinema: a fala flutuante em “Familia Rodante” (2004), de Pablo Trapero
Debora R. Taño
Resumo: A presente pesquisa aborda o uso da voz como elemento sonoro, para além de seu conteúdo semântico, tendo como objeto de análise o filme Familia Rodante (2004), do diretor argentino Pablo Trapero. Neste filme as falas dos personagens parecem não estar amarradas a informações comumente interpretadas como “relevantes”, mas sim flutuando por assuntos passíveis de serem entendidos como “periféricos”. Tal característica diminuiria o papel primordialmente semântico das vozes, abrindo espaço para a sua presença enquanto “som”. Entendendo a voz como mais uma camada da construção sonora de um filme e como fator importante na configuração de personagens e de ações, observaremos quais são as possíveis potências implicadas em suas sonoridades. Observaremos, ainda, as significações que emergem da interação entre a voz e os demais componentes sonoros e em que medida tal polifonia é capaz de articular camadas narrativas específicas. Estas diversificações no uso da voz podem ser abordadas de acordo com suas demandas, levando-nos a diversas perguntas e abordagens teóricas diferentes a partir do que o filme nos apresenta como formas de uso das sonoridades vocais.
Palavras chaves: Voz, som no cinema, “Família Rodante”. UFSCar - Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Debora R. Taño, 2018;
CULINÁRIA SONORA: UMA ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO SONORA D'O GRIVO EM CINCO “MICRO-DRAMAS DA FORMA” DE CAO GUIMARÃES
Marina Mapurunga de Miranda Ferreira
Resumo: A presente dissertação é um estudo analítico da construção sonora, realizada pelo duo O Grivo, dos curtas-metragens Hypnosis (2001), Nanofania (2003), Da janela do meu quarto (2004), Quarta-feira de cinzas (2006) e Sin Peso (2007) realizados por Cao Guimarães.
Ambos os filmes são designados pelo realizador como “micro-dramas da forma”. Estes são filmes que as imagens são captadas por estímulo, perplexidade ou espanto, pelo desejo que move o artista a filmar algo. Todos fazem parte também do Cinema de Cozinha de Cao Guimarães, o cinema que experimenta. É dentro deste Cinema que provamos a culinária
sonora do duo de arte sonora O Grivo que nos apresenta seu minimalismo amplificado, por meio de seus objetos, instrumentos, mecanismos e máquinas sonoras. Propomos uma análise sonora em duas vias: stricto sensu e lato sensu. Lato sensu, relacionamos imagem sonora à imagem visual, tendo como base conceitos como o tri-cercle des sons (Michel Chion), o fantastical gap (Robynn Stiwell), os usos isomórfico e icônico do som (Scott Curtis) e os princípios da música citados por Claudia Gorbman. Baseamo-nos, também, em rocessos de sound design. Strictu sensu, temos como base os elementos fundamentais dos sons para descrevê-los nos filmes. Para este estudo analítico foi utilizado o software livre de análise de filmes Lignes de Temps. Assim, temos como objetivo examinar como se dá a articulação destes conceitos com a construção sonora dos cinco curtas-metragens em estudo e, consequentemente, como o trabalho minucioso de criação e expressão sonora d'O Grivo vem contribuindo tanto para estas obras como para os estudos de som no audiovisual.
Palavras chaves: som; audiovisual; cinema; O Grivo; Cao Guimarães;.
Contato - marinanimula@gmail.com
O SOM AO REDOR E HOMENS E CARANGUEJOS: A CONSTRUÇÃO DO PONTO DE VISTA E A REPRESENTAÇÃO SOCIOESPACIAL NAS NARRATIVAS
GRAZIELE RODRIGUES DE OLIVEIRA
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo investigar, a partir do método comparatista, a representação de algumas problemáticas urbanas: segregação socioespacial e desigualdades sociais e raciais – temas mais amplamente tratados por sociólogos, antropólogos e geógrafos – sendo fundamental trazê-los, também, para o campo da Literatura Comparada. Para tanto, a investigação parte do problema da segregação socioespacial que remonta a um histórico permanente de expropriações territoriais desde o período colonial e se reflete tanto nos espaços urbanos como nas representações das mais diversas expressões artísticas que os têm como objeto. Pesquisadores como Bourdieu (1996), Candido (2006), Foucault ([1969] 1992), Bakhtin (1997) e outros constituem o referencial teórico. A análise será feita entendendo-se a arte como discurso social, aqui, cinema e literatura, afinal, são importantes campos artísticos na representação do mundo e, mais que isso, como a construção do ponto de vista de autores separados pelo tempo (Josué de Castro e Kléber Mendonça Filho) se aproximam e suscitam debates de desconstrução sobre as hierarquias que corrompem a sociedade. Ainda que presentes em todo o Brasil e o restante da América Latina, as segregações socioespaciais elencadas como tema, dispõem em obras que têm a cidade de Recife um locus privilegiado de representação. Deste modo, a obra cinematográfica O Som ao Redor, dirigida por Kléber Mendonça Filho, e o livro Homens e Caranguejos, de Josué de Castro, são os objetos escolhidos para pensar sobre esta temática na América Latina. Pretende-se, assim, delinear a construção estética de ambas as narrativas (filme e livro) numa “interpretação dialética” em que os elementos externos (fator social) passam a ser internos quando são transcritos esteticamente para dar forma a obra de arte.
Palavras chaves: Cinema; Literatura; Ponto de vista; Segregação socioespacial.
Contato -
A MÚSICA EXTRADIEGÉTICA NO CINEMA COMERCIAL BRASILEIRO
CONTEMPORÂNEO. UM ESTUDO SOBRE AS FUNÇÕES DA MÚSICA NOS
FILMES BRASILEIROS INDICADOS AO OSCAR NOS ANOS 90
GUILHERME MAIA
Resumo: Esta dissertação tem como objeto central as funções da música extradiegética no
cinema brasileiro comercial contemporâneo. No primeiro capítulo são abordados estudos de alguns autores sobre as funções da música no cinema. As estratégias de uso de música no cinema clássico hollywoodiano, a partir do estudo realizado por Claudia Gorbman no livro Unheard Melodies (1987), constituem o paradigma principal desta investigação.
Para a autora, o modo de fazer música, no contexto do cinema clássico, é dominante no cinema desde a gênese do filme sonoro e tem forte influência no cinema comercial contemporâneo de vários países.
Com o objetivo de iluminar por outros ângulos o tema central desta pesquisa, foi considerado relevante levar em conta alguns aspectos das perspectivas práticas e teóricas de pesquisadores, cineastas e compositores como Michel Chion, Sergei Eisenstein, Philip Tagg e Adorno & Eisler. As abordagens destes autores complementam o enfoque de
Gorbman e discutem algumas propostas anti-hollywoodianas de uso de música no cinema.
No segundo capítulo são apontados exemplos de estratégias clássicas em filmes das companhias cinematográficas Cinédia, Atlântida e Vera Cruz, e de procedimentos heterodoxos em filmes dos movimentos conhecidos como Cinema Novo e Cinema Marginal. No terceiro e último capítulo o foco dirige-se ao cinema brasileiro comercial contemporâneo e é realizado um estudo comparativo entre as funções da música extradiegética nos filmes O Quatrilho, O Que É Isso Companheiro? e Central do Brasil.
RIO DE JANEIRO, 2002